Nota de Repúdio – Em Defesa das Liberdades Democráticas na Rádio Universitária (UFC)

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O que transforma o velho no novo

Bendito fruto do povo será

E a única forma que pode ser norma

É nenhuma regra ter

É nunca fazer nada que o mestre mandar

Sempre desobedecer

Nunca reverenciar

(Belchior)

Um rei mal coroado

Não queria o amor em seu reinado

Pois sabia não ia ser amado

(Geraldo Azevedo)

A Rádio Universitária FM, emissora pública com 40 anos de história, vive um momento de alerta. Patrimônio material e imaterial do povo cearense, tornou-se uma referência nacional em radiodifusão pública. Para além de um veículo, integra a paisagem cultural do nosso estado, do Brasil.

Traz consigo os melhores esforços em construir a comunicação como direito humano, comprometida com a promoção da representação, da participação, dos direitos e mesmo da existência, da vida plena das maiorias sociais.

Com seu corpo técnico e colaboradores (as), cumpre, em todo esse período, a missão maior como guardiã e salvaguarda das músicas e das culturas brasileiras e de debates e informações de interesse público. Exerce um jornalismo plural, crítico e diverso, como deve ter toda rádio, sobretudo do campo público.

Sempre ancorada na Universidade Federal do Ceará (UFC), a nossa “Sintonia da Terra” mantém sua estatura maior como uma emissora universitária. Faz jus à história de tantas e tantos mestres que a dirigiram, mesmo em momentos tão ou mais odiosos e autoritários quanto o que vivemos.

Mas hoje a Rádio Universitária FM vivencia um dos seus piores períodos de sua história. Sob controle da reitoria da UFC, a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), que detém a outorga da rádio, impõe uma intervenção que coloca em risco todas as liberdades de expressão – de imprensa, de produção e de criação -, especialmente desde novembro de 2021.

Imposta contra a vontade da comunidade universitária, a gestão da UFC chancela, legitima e consolida em prática interesses inconfessos que mobilizam bastidores carregados de assédio, censura e vigilância contra vozes divergentes.

Pretendem, ainda, tutelar manifestações culturais, discriminando, em especial, culturas populares e afro-brasileiras e filtrando o acesso de sujeitos sindicais e de movimentos sociais à emissora. A ordem é impor silêncios e reverências.

Como fundadores (a) ou diretores (a), já passaram pela direção da rádio nomes como Marcondes Rosa, Ivonete Maia, Clóvis Catunda, Rodger Rogério, Agostinho Gosson, Elian Machado, Eliomar Abraão Maia, Débora Cândida Dias Soares e João Batista Sales.

Em nome deles (a) e de todas as pessoas que construíram e ainda sustentam esse patrimônio, é impossível admitir esse tipo de ameaça às liberdades democráticas, ataque que dialoga diretamente com o tempo histórico em que vivemos. De direitos e liberdades não se abre mão.

O professor Nonato Lima, que participou da origem da Universitária FM, estava há mais de 15 anos à frente da direção executiva da emissora e apresenta seu programa, Rádio Livre, há mais de 26 anos. Sua história se mistura com a da rádio.

A saída dele e o anunciado fim do seu programa são o ápice de uma sanha totalitária que se espalha pelo país e atinge, agora, a referência maior da comunicação da nossa universidade pública no Ceará. Essa agressão exige ato de desagravo em respeito à sua historia e à da Rádio Universitária FM. A gente está no ar para ser livre!

Nós vamos nos manter alertas às produções, à programação, ao funcionamento, à vida pulsante que sempre marcou a nossa Rádio Universitária FM. Trata-se de um alicerce cultural, afetivo, memorial e existencial para toda a população cearense.

A música, a cultura e o jornalismo devem muito a essa emissora. E essa gratidão agora se verte em toda a luta coletiva que for necessária para manter, defender e fortalecer os direitos e as liberdades democráticas da nossa Sintonia da Terra.

Assinam:

Grupo Música do Ceará

Sindicado dos Músicos (as) do Ceará (Sindimuce)

Associação Cearense de Imprensa (ACI)

Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce)

Federação Nacional dos  Jornalistas (FENAJ)

Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (ADUFC-Sindicato)

Sindicato dos Trabalhadores nas Universidades Federais no Ceará (Sintufce)

Coletivo Rebento

Brigadas Populares

Intersindical – Central da Classe Trabalhadora CE

Sindicato dos Bancários do Ceará

Associação de Moradores (as) do Bairro da Serrinha

CTB/CE

Coletivo Ser Ponte

Sindicato dos  Radialistas do Ceará (SindradioCE)

Associação Juízes pela Democracia (AJD)

Associação de Pós-graduandos (as) da UFC

Rede Nacional de Médicas e Médicas Populares (RNMP)

Grupo Mulheres da Música

Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado do Ceará (SINTSEF/CE)

Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil da Região Metropolitana e de Fortaleza (STICCRMF)

Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Confecção Feminina de Fortaleza (SINDCONFE)

Discentes do Programa de Pós-graduação em Educação da UFC

Frente de Luta por Moradia Digna

Resistência Vila Vicentina

Programa Transpassando de combate à Transfobia (Coletivo Transpassando)

Casa de Cultura e Defesa da Mulher Chiquinha Gonzaga

Movimento Caminhando Em Luta (MCL)

Núcleo Popular

Centro Acadêmico Batista Neto (Ciências Sociais/UFC)

Sindicatos dos (as) Trabalhadores (as) em Entidades de Classe do Estado do Ceara (SINTEC-CE)

Coletivo Kizomba

Centro Acadêmico Georgescu-Roegen (Economia Ecológica/UFC)

Sindicatos dos (as) Trabalhadores (as) em Transporte no Estado do Ceará (SINTRO)

Coletivo Tembiú (CE)

Sindicato dos Servidores do IFCE – SINDSIFCE

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