Dia Internacional do Orgulho LGBT – Por Êmy Virgínia

14

Alexina Barbin viveu na segunda metade do século XIX. Ela era uma pessoa intersexual, o que o discurso médico da época chamada de “hermafrodita”. Antes de morrer – ela cometeu suicídio, pelas razões que eu vou explicar ainda nesse vídeo – ela deixou um livro de memórias que nos ensina muito sobre orgulho intersexual, nesse mês em que celebramos o orgulho LGBTQIA+.

Se tivesse nascido dois séculos antes, Alexina não teria vivido as agruras do século XIX. Até o século XVIII, a pessoa intersexual, mesmo que os pais definissem sua identidade de gênero ao nascer, ela era livre para, na vida adulta, mudá-la, se assim o quisesse.

A partir do século XVIII, surge a ideia de que a identidade sexual de uma pessoa intersexual deve ser definida por um médico ou por um perito. Isso se intensifica no século XIX, onde aparece uma relação imbricada entre sexo e verdade e a ideia de que todo mundo deve ter um “sexo verdadeiro”.

É essa conjuntura que encontra Alexina no século XIX, vivendo num convento, onde ela praticava a sua sexualidade de maneira muito livre com outras meninas. Retirada do convento, descoberta por um padre e um médico, depois de um processo médico e judicial, ela é obrigada a assumir uma identidade masculina e, por isso, ela se suicida.

Foucault, analisando suas memórias, diz: “em suas memórias, Alexina evoca um passado feliz, em que ela podia viver sem sexo definido. Creio que ela se comprazia em um mundo em que não era necessário ter um sexo verdadeiro”.

Essas ideias estão nesse livro do Michel Foucault, um livro que tem vários textos sobre história da sexualidade. Não há orgulho sem consciência histórica da nossa condição de pessoa lgbtqia+. Adentremos nessas histórias. Um abraço!

Livro citado no vídeo: Ética, Sexualidade e Política. Seleção de textos de Michel Foucault, organizado por Manoel Barros da Motta. Livro 5 da Coleção Ditos e Escritos. Consulte-se especificamente o texto O Verdadeiro Sexo, escrito em 1980.

Por Emy Virginia